segunda-feira, 24 de março de 2014

Já passou. Tudo já passou.

Diferentemente da minha última postagem, hoje quero falar de hoje. É, ao invés de ser nostálgico e contar do que já passei, vou ficar com meu presente. E que belo presente a vida está me dando.

Nunca contei aqui o que faço, além de curtir um som. Mas, eu sou ator, faço teatro há sete anos sem parar e, principalmente depois de sair do palco hoje, posso dizer que é extremamente gratificante poder interpretar um personagem, dar vida a um texto e, o melhor de tudo, fazer arte e saber que provoquei risos, sensações incômodas ou mesmo constrangedoras. Com certeza, quem pôde assistir a alguma das apresentações dessa temporada de O Pequeno Retábulo de Dom Cristovão - texto lindíssimo de Federico Garcia Lorca - foi tocado e não é mais o mesmo ser humano que entrou naquela sala de teatro. Pequena fisicamente, mas enorme no que ela pode proporcionar a todos que ela permite entrar.

E o ser artista tem disso: podemos não ganhar salário, ter nosso dinheiro garantido ao final de cada apresentação, mas ganhamos em saber que estamos mudando a vida de pessoas. Estamos nos relacionando de alguma forma com o mundo. Esse mundo que parece estar tão conectado, porém tá cada um dentro da sua bolha e pouco acontece nas relações interpessoais. É muito legal - palavra bem meia-boca pra traduzir esse sentimento - quando estou em cena e olho nos olhos de cada espectador, pois sei que os olho de uma maneira que nunca ninguém os olhou. Não tô dizendo isso, porque eu tenho um olhar espetacular e bla bla bla, quero dizer que é um olhar que não me pertence. Pertence ao personagem que eu, naquele momento, estava dando vida, pois tava passando um recado, uma ideia que o autor queria que fosse passada adiante, através de gerações e mais gerações. E, infelizmente, muita coisa não mudou com o passar de várias décadas e, por isso, o texto ainda faz muito sentido nos dias de hoje.

Ao mesmo tempo, cada grupo, cada diretor, tem sua própria visão de um texto e, tenho certeza, que ninguém no mundo, em todos os tempos, fez essa peça do jeito que nós fizemos. Poética quando precisava ser, incendiária quando tinha que ser. Com erros, justificando que são humanos fazendo arte, mas com sinceridade própria de quem acredita no que está inserido naqueles 45 minutos aproximadamente de peça.
Em cena, o tempo é totalmente diferente desse tempo aqui. Esse do relógio, sabe? Lá no palco, o tempo pertence ao teatro. Naquela hora, ninguém mais tem controle do tempo. Aposto que se colocasse um relógio de pulso, ele correria de acordo com o tempo da peça (brisa minha, mas é o que sinto quando estou sendo o Diretor do retábulo).

E sabe o que é mais doido? O meu diretor, um sujeito que enxerga tudo de uma maneira que até Deus duvida, conseguiu linkar a estória do Lorca com uma do Plínio Marcos. Ele juntou um texto escrito para teatro de bonecos com um totalmente anárquico e visceral, e assim construiu uma peça quase nova. Genial. Que ideia genial, Paulo! Admito que demorei uns ensaios pra entender, de fato, a coisa do começo ao fim, mas eu entendi. Hoje, eu entendi demais. Que coisa linda do caralho. Escrevo pouco palavrão, mas não tem o que definir a porra toda.

Ainda estou em êxtase com hoje. Com a vida. Com quem sou. E dou graças a Deus por ter entendido e estar degustando cada minuto. Admirando e fazendo parte de cada segundo. Sentindo, respirando, agindo, rindo, cansando, tocando, cheirando, machucando, sofrendo, sendo. É, Leonardo, a vida não para não!
Kurt Cobain morreu há vinte anos. Não se sabe 100% que foi suicídio, mas não está mais vivo. Bom, não está vivo nesse tempo aqui. Porque enquanto algo ou alguém é lembrado, ele continua vivo. E, no fundo, é isso que importa. O viver em carne e osso não importa tanto, pois não somos isso. Estamos isso. Então, meu caro, continue aproveitando cada fração de segundo, pois cada uma delas vai passando e não voltam mais. Não te pertencem mais. Pode tirar foto, fazer video, mas já era. O que fica é o conhecimento e as emoções que você guarda e vai distribuindo aos outros.

A madrugada tá começando e a música tá rolando. O texto tá terminando, mas os pensamentos tão fluindo. Tchau. Até algum dia. Aqui, lá ou acolá. E peço desculpas. Não sei o porquê, mas melhor pedir desculpas do que não pedir. Ah... isso aí é uma parada certa.